terça-feira, 31 de março de 2015

Política do café com leite


















A política do café com leite, foi um tratado de compadres entre as oligarquias de Minas Gerais, maior colégio eleitoral da época e produtor de leite com São Paulo, produtor de café, apenas os dois estados se revezavam no poder da república velha, que compreende ao período de 1894 até 1930.
O resto do país no bom e velho que se foda.
Sempre odiei café com leite.
Gostava mesmo só quando me era permitida a mamadeira. E quem não gosta de mamar não é? Mamei até meus sete anos, não sei se eu devia me orgulhar disso, mas é bem menos que os 12 anos do PT que a turma da revolta seletiva tem reclamado (e não tiro suas razões na reclamação),  mas não podemos esquecer que de 1500 até 2002 nunca se roubou no Brasil, e meus sete anos de mamadeira nem se comparam aos 20, agora caminhando para 24 anos de PSDB no estado de São Paulo, que agora se encontra seco.
O legal da mamadeira é que o leite passava pelo pequeno orifício e a nata não passava. Era detida dentro da garrafa plástica. As leis mudaram na minha casa, a mamadeira foi banida.
– Tu já tá grande, para com essa história de mamadeira. E se vai continuar sendo um bebezão, pelo menos aprenda a fazer…
– Tá bom…
Eu estava mesmo louco pra mexer no fogão. Mas era um blefe da minha mãe, a lei foi “pare com a mamadeira” e ponto, nenhuma abertura política.
Nesse período da minha história fiquei inimigo do café com leite, e aliado do coador.
Minha tia Renita, fazia o pior café com leite da história, o que menos tinha era leite, o que mais tinha era nata.
Depois de algum tempo de sofrimento, fiz um acordo com minha mãe.  Eu queria mesmo era tomar só café, sem leite. Mas eu tinha oito anos. Firmamos o tratado, eu tomaria leite pela manhã e de noite, em troca de tarde, depois da aula eu poderia tomar um cafézinho puro, para assistir a sessão aventura, período pré Malhação.
Vitória parcial. Como todo e qualquer brasileiro tentei burlar as leis do novo acordo. O leite matinal era chocolate com leite e não o contrário, e o da noite café, muito café, bastante café e leite, fazia de tudo pra não sentir o gosto da água de vaca. Mas o corpo pagava, e caro, inúmeras foram as dores de barriga que condenavam meus crimes de corrupção.

“Dez anos passaram, cresceram meus irmãos. E os anjos levaram minha mãe pelas mãos. Chorei! Meu pai disse: "Boa sorte" Com a mão no meu ombro...” Ele disse chega de leite.

Bem não foi bem assim, a decisão foi minha, eu parei por conta própria. Meu pai respeitou. Afinal nunca fui aquela pessoa café com leite, que não tem opinião própria, não sabe as regras do jogo e por conta disso recebe privilégios. Desde que saiu da mamadeira e ficou sentenciado apenas a xícaras, cultuei meu ódio ao café com leite, com a morte da minha mãe, que me obrigava a toma-lo, bani da minha vida e geladeira. Ele voltou pra minha geladeira graças ao nascimento de Alice, reforma política, afinal a menina gosta. Mas não nos cumprimentamos, nem eu gosto dele, nem ele de mim, também pudera, eu que liderei o movimento de impeachment, isso foi um 1992.
No entanto a falta de água dessa cidade, a secura desse estado, fizeram com que eu tomasse uma atitude para economizar água e eu passei a amar café com leite, desde que esse leite seja condensado.

Como a ocasião faz o ladrão, acabei criando uma receita maravilhosa, saborosíssima, simples, mas acima de tudo, econômica e sustentável.

Vamos aos ingredientes.

• 150 ml de café passado
• 2 colheres de sopa de leite condensado
• 3 pedras de gelo
• 1 copo hipster, ou um vidro de geleia com tampa.

 Modo de preparo? Fiquem com mais um didático vídeo da Vergonha Alheia Própria Produções.

sexta-feira, 20 de março de 2015

La feijoada descompliqué para o almoço do senhor cabeça de Cogumelo

























Vou te dar vida novamente.
Porque renovei a minha.
Sei que te deixei parado, quieto e nunca mais falei contigo.
Fui pra Paris, não te abandonei por completo, te deixei vivo, em coma, mas vivo, e não desliguei os aparelhos.
Afinal se eu desligar como vou fazer para postar no facebook, no instagram de maneira obsessiva tudo que faço?

Eu tenho um blog de culinária que não alimento, deixo à mingua, com fome.

Voltei cheio de esperanças, alegrias e amor no coração, voltei purificado.
Nesse tempo todo que te deixei de lado, nunca deixei de cozinhar, e isto que dizer que nunca deixei de pensar em ti um só minuto. Só deixei de postar, menos no instagram e no facebook, sim, é um caso é doença, e bem patológico. Sempre quando me perguntam onde moro não sei mais dizer meu logradouro; se no e-mail, no insta, ou na casa de Zuckberg. Hoje digo com todas as letras, e a boca cheia de contentamento, morei em Paris.

Vivi em Paris por dois maravilhosos meses. Sorri, comi, bebi, não rezei mas entrei em muitas igrejas, briguei, pedi desculpas, amei, porque sim, ela é a paris d’amour.
Enfrentei medos, o de falar a língua, o de entender ela, o metrô, as pessoas e principalmente perdi o medo de cozinhar feijão. Admito um bloqueio, tem os que provam minha comida e quando gostam, revelo minha incapacidade e todos riem, apontam, dizem, "como pode, algo tão fácil?". Não é fácil, nada é fácil, não existe almoço grátis.

Estreei minha culinária na terra de Danton já na chegada, uma bolonhesa, prato que minha anfritriã Simone, ama, todas vezes que veio a minha casa pediu, agora que a visito é algo que faço sem ela pedir, faço com todo meu amor e gratidão. Saímos da rua, entramos num mercado, os legumes os mais bonitos que já vi. As frutas? Bem essa não é uma especialidade francesa, tem muitas, não a nossa variedade, mas verduras e hortaliças são todas tré joli. No corredor de carnes percebi que ia levar um tempo até eu entender o que estava escrito nas embalagens. Boef, couchon, porc, c'est ne pas la même chose. Não comprei gato por lebre, comprei porco por boi, assim nasceu minha pasta ao molho “porconhesa”. Não falarei dela, talvez em outra oportunidade, até porque esse molho já é, em bom francês, um cliché

O que eu trouxe para dar mais um sopro de vida ao blog e desistir da eutanásia digital, foi minha avant première en la feijoada, que já disse, ser meu grande medo, pois superestimo o cozimento do feijão.
No entanto, todo brasileiro na França tem obrigação de jogar bem futebol, fazer feijoada e sambar.
Na minha chegada, joguei futebol, atuei como goleiro e brilhei como o camisa um, a faixa etária dos jogadores era de 10 anos de idade, fui classificado por idade mental, o time que tinha eu como goleiro, não perdia. Isso aconteceu no meu primeiro sábado francês. 

O segundo sábado em Paris sim que me coloca numa situação de vida ou morte, cozinhar para 3 brasileiros, 5 franceses, uma portuguesa, um franco-espanhol, enfim, uma festa de Babel…
Línguas e orelhas se misturavam, aliás não encotramos esses ingredientes em Paris, nem rabo, nem joelho de porco, e também nada de carne-seca...Mas as linguiças, essas deram um sabor todo especial a minha primeira feijoada da vida, afirmo que as linguiças francesas são melhores.
A feijoada ficou maravilhosa, foi muito elogiada, ainda bem, não encontramos couve, substituímos por outro verde qualquer, o molho de pimenta superou minhas expectativas, forte, mas sem perder lá ternura.
Demorei para levar a feijoada para mesa, um misto de insegurança e malandragem bateu em mim. Usei a fome de todos como minha aliada, faço sempre isso quando cozinho para muitos, demoro, assim transformo toda apreensão em sabor.
Enfim, foi ouvindo feijoada completa de Chico Buarque e um de álbum de Nina Simone cantando clássicos dos anos 60 que cortei todos ingredientes e finalizei a feijoada. De sobremesa tivemos doces franceses e samba no ukulele e umas Piaf's.
Cumpri todos requisitos para ser um brasileiro em Paris, e como voltei de lá? Bem mais francês, tomando menos banho claro, já que habito a terra da garoa sem água, o maravilhoso mundo de Alckmin, mas com todas memórias que tenho, muito mais feliz, venci meus medos, fiz uma feijoada em Paris.

Ingredientes:

• 1 kg de feijão
• 3 cebolas
• 1 cabeça de alho
• 3 linguiças de porco
• 2 linguiças de porco defumadas
• Bacon, nunca é demais (usei 500g)
• 1 costela de porco, 700 g

Tinha medo, agora tenho vergonha, afinal a Vergonha Alheia Própria Produções que nunca foge do conceito, caprichou nesse modo de preparo com mais um brilhante, incrível e didático filme. Um bom filme a todos.